terça-feira, 21 de dezembro de 2010

VISÃO SOBRE O RAKU ATRAVÉS DO MEU PONTO VISTA

O que é o Raku através do meu conhecimento.

Cerâmica RAKU no Japão

O Raku é uma técnica de queima da cerâmica que tem suas origens no século XVI no Japão.

As circunstâncias exatas de sua descoberta contêm muitas contradições. A origem e sua história permeiam as mentes humanas com muitas versões, às vezes imprecisas.

Das histórias contadas, sobre meu ponto de vista, acho que a mais sensata é que foi o acaso que levou a sua descoberta, ou seja, as peças foram retiradas do forno ainda incandescentes e devido ao choque térmico com a temperatura ambiente, o esmalte que as recobriam sofreu várias fissuras. Eram taças pequenas, tcha-wan, utilizadas na cerimônia do chá. O chá verde é rico em tanino, substância que gradativamente vai fixando-se nos poros abertos da cerâmica, tingindo-as de preto e criando padrões irregulares de acordo com as fissuras.

O porque dessas peças terem sido eleitas no passado para uso na cerimônia do chá, ritual com uma filosofia zen até os dias atuais, é um mistério. O nome Raku segundo algumas fontes provém da dinastia onde aconteceu o processo.

Passagem e processo do RAKU no OCIDENTE

Em 1911, o ceramista inglês Bernard Leach estabelece contato com ceramistas japoneses e "traz" o conceito técnico do Raku para o Ocidente. As peças desenvolvidas ainda aparecem ligadas às formas tradicionais, sem nenhuma inovação e praticamente é disseminado, uma vez que pertencia a uma herança cultural que não fazia parte da nossa, ou seja, “um estranho no ninho”..

Porém, por volta dos anos 60, Paul Soldner (americano) toma contato com o “Manual do Ceramista” de Bernard Leach e faz várias pesquisas e experimentos, como a utilização de óxidos metálicos e o uso de uma câmara de redução após a queima. O Raku, então, dissocia-se das formas e funções originais e desenvolve-se sobretudo como um processo técnico, associando-se plenamente às correntes contemporâneas da cerâmica.

Hoje em dia essa técnica de redução, que permite interferências e inovações com critérios sérios, serve de meio a muitos artistas para finalizar sua obra e expressar sua arte.

A sua estética é espontânea e cada peça cerâmica tem uma linguagem única devido às variáveis que envolvem o processo da queima, criando uma infinidade de efeitos que agrada a tantos artistas e colecionadores.
lu Leão

QUEIMA DE RAKU

Evento realizado no SENAI - MARIO AMATO de São Bernardo do Campo em 23 de Setembro de 2010.
No período da manhã aconteceu uma palestra sobre o tema "O que é a redução durante o processo de queima, para obter metalizados"

HISTÓRIA DAS SAGGARS

MINHA VISÃO SOBRE O CAMINHO DAS SAGGARS NO TÚNEL DO TEMPO


O que me fascina no ser humano é o seu poder de transformação em todos os sentidos da vida. Na arte é o potencial criativo em observar um processo, avaliar e ver beleza no caminho inverso deste processo. Fascinante! É algo que está no nosso subconsciente. Quem de nós não vivenciou o poder mágico de observar o reflexo das imagens na água de rio, ou imagens das sombras criadas sobre todas as formas. As distorções são ricas de conteúdo para nossa imaginação e processo criativo.
Transportando este comportamento para as saggars, é maravilhoso entender seu percurso ao longo dos anos.
No início, quando as cerâmicas entraram em produção em larga escala, os fornos eram aquecidos por fornalhas de carvão ou lenha. Para proteger as peças de faíscas, cinzas, gases corrosivos e manter um mesmo padrão em série, foram criadas caixas de proteção envolvendo, para salvaguardar a cerâmica. Quando os fornos passaram a queimar a gás ou eletricidade, as saggars tornaram-se desnecessárias.
Aí é que entra este potencial criativo a que me refiro. As saggars passaram a ter uma função inversa para os ceramistas que partilham da filosofia: “as mãos não são automáticas e a mente não é movida à pilha”.
A peça cerâmica passou a ser colocada dentro das caixas e preenchidas de material orgânico para obter uma atmosfera redutora, com direito a fuligem e todas as impurezas possíveis para criar impressões aleatórias transformando-se em nova linguagem de beleza na peça. É o conceito: enxergar a beleza das coisas imperfeitas, ou seja, o reflexo da paisagem na água do rio. É a alma humana refletida na arte.
Seguindo esta filosofia as opções destes registros tornaram-se infinitas de possibilidades.
Seja em relação à contenção das peças nas caixas rígidas que limitam o encaixe e ocupam muito espaço, assim como nos materiais inseridos para criar uma atmosfera redutora e por conta do tipo de material que às vezes necessita de maior temperatura para criar efeitos, queimas de diversas temperaturas. Eu aprecio e pratico a queima a 650°C. As saggars de folha de alumínio são minhas prediletas. Posso utilizá-las sozinha, ou seja, somente com os materiais orgânicos ou acrescentando barbotina ou então,* placa de argila.
A vantagem das queimas em muflas individuais e maleáveis, envolvendo o objeto cerâmico como se fosse uma roupa do tamanho adequado ao objeto, é que se torna econômico, pois os sulfatos e materiais orgânicos são colocados na proporção ideal para produzir os efeitos, sem desperdícios, fixam direto no objeto dando mais ou menos controle do que desejamos atingir na decoração, elas podem ser empilhadas uma sobre as outras dentro do forno, otimizando o espaço, e cada objeto é personalizado, pois os vapores de gases que volatilizam dos produtos durante a queima trabalham apenas dentro da mufla e os produtos colados no corpo da peça criam uma tonalidade intensa.

*Aguardem o próximo assunto:
As placas de argila que desprendem das peças: sua vida na Arte!!!!!!!!

SAGGAR FIRING PARTE II

HISTÓRIA DAS SAGGARS

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

SAGGAR FIRING - ETAPAS DO PROCESSO E DA QUEIMA COM MATERIAIS ORGÂNICOS E SULFATOS À 650°C - MUFLA DE ALUMÍNIO





PEÇAS FINALIZADAS E EXPOSTAS NO ATELIÊ


































































































































O INÍCIO DO PROCESSO


A folha de alumínio deve ser grande para embalar toda a peça.

Os produtos, no caso dos pratos, bastam ser colocados apenas na frente, o lado que será vizualizado.

Bolas, garrafas, peças muito côncavas devem receber os produtos em todo o corpo.


















O prato já está bem temperado !!!!

Musgo, sal grosso e fino, sulfatos, fio de cobre, etc.

Está no ponto! É só fechar a "Mufla" e levar ao forno.

















Até as embalagens das marmitex não escapam. Podem ser recicladas para este fim.
Contribuímos com o meio ambiente !!!!!!















Dependendo do formato da peça as vezes é necessário amarrar tecido (fralda de nenê) para que os produtos mantenham-se colados ao corpo da peça e na seqüência levantar as bordas da folha de alumínio e fechar. Esta é a famosa "Saggar" em inglês ou "Embalagem", "Invólucro", "Mufla" em português.


Será que ela está com "dor de dente" ou "cachumba"!!!!!!




















A QUEIMA

As peças embaladas na folha de alumínio são empilhadas no forno e a queima é feita a 650°C.

O tempo de queima é de mais ou menos 1 hora e 30 minutos.

O ideal é fazê-la um dia após a colocação dos produtos e deixar esfriar o forno para removê-las.






























LIMPEZA DAS PEÇAS


Após as peças esfriarem, são retiradas do forno e removidos os resíduos com uma escova e lavadas com uma esponja macia, detergente e água.

Depois que evaporar a água da peça, passe uma cera incolor para deixá-la sedosa e protegida.
































Esta garrafa recebeu além dos produtos, fios de cobre enrolados no seu corpo.

Vejam sua foto final no início da matéria.


































O curso desta técnica tem duração de 2 dias. Pode ser ministrado até para uma pessoa.

Espero que tenham gostado da demonstração.

SAGGAR FIRING

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O MUNDO CERÂMICO E AS NOTÍCIAS RECENTES




Gente, na internet tem uma matéria de capa com o título: SERES E ORGANISMOS PODEM SER OS MAIS ANTIGOS DO PLANETA que eu completo: E A MAIOR FONTE DE INSPIRAÇÃO POÉTICA PARA AS ALMAS ARTÍSTICAS, vale a pena ver as fotos e ler o artigo.

Acredito ser previlégio de todos beberem nesta fonte para se expressar.

No momento estou feliz, pois essa fonte permetiu a aprovação do meu trabalho numa exposição, cujo meu tema é "Natureza Fértil", uma releitura e interpretação do meu imaginário sobre sementes saindo do seu estado de dormência, partindo para o processo de germinação com seu broto lutando pela vida para nos presentear no futuro em uma bela árvore com copa frondosa, oxigenando este planeta tão carente, abrigando e alimentando todos os seres.

Parabéns aos colegas ceramistas aprovados com seus trabalhos e pelo presente que todos ganham em poder através desses eventos apreciar e respirar arte.

A 4a Grande Exposição de Arte Bunkyo acontece no mês de Outubro entre os dias 03 a 17

Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa
Rua São Joaquim, 381, 1°andar
Liberdade-São Paulo - fone (11)3208.1755
site: www.bunkyo.org.br


A seguir um pouco do caminho que percorri para realizar este trabalho.

Pesquisa de campo e pela internet de sementes germinadas, a releitura para sua realização no barro, a minha pesquisa de formulações de esmaltes para cobrir o corpo cerâmico, momento de introspecção em que viajo na química até conseguir o efeito que me satisfaça para perpetuar minha obra.


FOTOS DE ALGUMAS SEMENTES:






Nesta semente usei um esmalte como base e por cima interferências com óxidos.









Fundo da semente com o esmalte sem interferências.
É o meu favorito nesta pesquisa.









Vale a pena testar.


RÚSTICO ALARANJADO LL

3 bórax
1 albita
2 caulim
1 carbonato de bário
1 carbonato de magnésio
1 carbonato de sódio
1 carbonato de cobre
1 óxido de rutilo branco


Toda a minha pesquisa é em peso, consciente da fórmula molecular de cada matéria prima e do seu efeito. Aprovada a receita, tranformo em medidas para facilitar sua execução uma vez que basta fazer em pequenas quantidades e repetir se faltar para passar na peça. Esta linha de esmaltes que pesquiso é feita e aplicada na seqüência, se houver sobra utilizar no máximo no dia seguinte. Algumas das matérias primas utilizadas tendem a cristalização.

De tudo que pesquisei e testei 6 receitas aprovei e apliquei no conjunto da obra.


















O conjunto da obra "Natureza Fértil" vale a pena ser visto na data da exposição.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

TÉCNICAS DE QUEIMAS QUE USO PARA FINALIZAR MINHAS OBRAS



São duas, as técnicas de queima que utilizo na minha arte: O RAKU com todas as suas variações, metalizado, rústico, nu, etc.) e a QUEIMA COM MATERIAIS ORGÂNICOS E SULFATOS, cuja definição de nome é muito ampla e gera tantas confusões, que por bem defini assim. O importante é vivenciar, praticar para só então analisarmos e dar nossas opiniões.

O Raku permite entrarmos no universo das marcas do tempo: o desgaste da obra, rachaduras, fissuras, fraturas, erosão, corrosão, texturas corroídas, etc. Esses “acidentes técnicos” são exclusividade do Raku, e que permite a expressão de uma percepção do mundo interior. É uma verdadeira simbiose a comunhão envolvendo tantas variantes como queima rápida, retirar as peças incandescentes do forno e colocá-las em materiais orgânicos para entrar em combustão e em seguida redução. É algo mágico.

QUEIMAS COM MATERIAIS ORGÂNICOS E SULFATOS

Para este processo é importante saber o significado de algumas expressões do nosso universo cerâmico.

SAGGAR é uma MUFLA, que é um RECIPIENTE, que é uma PANELA DE BARRO, que é um INVÓLUCRO onde colocamos a peça cerâmica envolvida com diversos materiais orgânicos e sulfatos de cobre, ferro e cobalto. É semi fechada deixando frestas onde entra o oxigênio para a queima dos materiais com o objetivo de proporcionar um ambiente de muita redução. Os materiais orgânicos envoltos na peça cerâmica carbonizam e criam uma atmosfera com muita redução e os sais se volatilizam, fixando na superfície da peça cerâmica, criando padrões aleatórios e desenhos coloridos. A gama de cores é infinita e depende muito da escolha dos materiais.
É possível ter controle das cores, desde que tenha conhecimento do que produz cada material na queima. É importante um mostruário para posteriormente fazer a composição na peça cerâmica.

Existem vários tipos de MUFLA.
Caixas de cerâmica refratária, quadradas ou redondas. Eu prefiro envolver as peças individualmente em folha de alumínio ou com uma placa de barro ou ainda tecido de fralda de bebê embebido com barbotina. É um universo muito grande e variedades infinitas de como embalar a peça cerâmica. Teste e veja os resultados.

PIT é um buraco no chão que, é um FORNO onde colocamos as muflas e alimentamos o fogo com pedaços de madeira, gravetos e outros materiais orgânicos.

FORNO é o que construímos sobre o chão com tijolos isolantes onde colocamos as muflas e alimentamos o fogo com botijão de gás.

Dependendo das condições do seu espaço é decidir por um deles.

Para obter os efeitos a queima é feita a 650ºC.



CUIDADOS QUANTO A RISCOS E PERIGOS

Tudo é perigoso quando não se tem conhecimento e respeito às regras de segurança no que diz respeito aos produtos utilizados na cerâmica e em qualquer tipo de queima.

Os produtos químicos podem ser manipulados com espátulas de madeira, aplicados com pincel ou salpicados com a mão protegida com luva látex ou saquinho plástico. Não há necessidade de usar máscaras são inodoros e não são tóxicos antes da queima.

A queima deve ser realizada em local coberto para proteger o forno da chuva. O local aberto e bem ventilado, para dispersar os vapores que desprendem na queima. Este é o momento crítico e não devemos ficar perto do forno.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Feliz 2010!


Desejo um Feliz 2010 para toda a turma do meio cerâmico! Como diz a música, 'românticos são lindos e pirados' e nós, artistas, somos todos assim: a alma cheia de esperança e transbordando criatividade. Que nesse ano que está iniciando possamos concretizar todos os nossos sonhos malucos! Um grande abraço da Lu Leão.

1º Congresso Nacional de Técnicas de Artes do Fogo - Itaipava/RJ


Adorei o convite feito pela Arte Brasil ("seu" Pascoal e o Caio)! Em Itaipava, lugar bonito e de paz, nas dependências da Cerâmica Luiz Salvador aconteceu o CONTAF 2009. Lá, tive a oportunidade de ministrar duas oficinas: raku metalizado e queima com sais metálicos; fui muito bem recebida pelo Marcelino, super atencioso. Com o público receptivo do Rio pude ter uma boa troca de experiências. Respirar novos ares faz bem para a alma e para a criatividade; expandir os horizontes, conhecer lugares novos são sempre experiências positivas para essa riqueza chamada vida. Encontros como o de Itaipava exigem um trabalho árduo e muito empenho dos organizadores - trata-se de uma tarefa extremamente estafante. Em uma época em que estamos atravessando crises em todos o meios, devemos valorizar a coragem e energia de todos aqueles que lutam para que a chama da arte jamais se apague.