terça-feira, 21 de dezembro de 2010

HISTÓRIA DAS SAGGARS

MINHA VISÃO SOBRE O CAMINHO DAS SAGGARS NO TÚNEL DO TEMPO


O que me fascina no ser humano é o seu poder de transformação em todos os sentidos da vida. Na arte é o potencial criativo em observar um processo, avaliar e ver beleza no caminho inverso deste processo. Fascinante! É algo que está no nosso subconsciente. Quem de nós não vivenciou o poder mágico de observar o reflexo das imagens na água de rio, ou imagens das sombras criadas sobre todas as formas. As distorções são ricas de conteúdo para nossa imaginação e processo criativo.
Transportando este comportamento para as saggars, é maravilhoso entender seu percurso ao longo dos anos.
No início, quando as cerâmicas entraram em produção em larga escala, os fornos eram aquecidos por fornalhas de carvão ou lenha. Para proteger as peças de faíscas, cinzas, gases corrosivos e manter um mesmo padrão em série, foram criadas caixas de proteção envolvendo, para salvaguardar a cerâmica. Quando os fornos passaram a queimar a gás ou eletricidade, as saggars tornaram-se desnecessárias.
Aí é que entra este potencial criativo a que me refiro. As saggars passaram a ter uma função inversa para os ceramistas que partilham da filosofia: “as mãos não são automáticas e a mente não é movida à pilha”.
A peça cerâmica passou a ser colocada dentro das caixas e preenchidas de material orgânico para obter uma atmosfera redutora, com direito a fuligem e todas as impurezas possíveis para criar impressões aleatórias transformando-se em nova linguagem de beleza na peça. É o conceito: enxergar a beleza das coisas imperfeitas, ou seja, o reflexo da paisagem na água do rio. É a alma humana refletida na arte.
Seguindo esta filosofia as opções destes registros tornaram-se infinitas de possibilidades.
Seja em relação à contenção das peças nas caixas rígidas que limitam o encaixe e ocupam muito espaço, assim como nos materiais inseridos para criar uma atmosfera redutora e por conta do tipo de material que às vezes necessita de maior temperatura para criar efeitos, queimas de diversas temperaturas. Eu aprecio e pratico a queima a 650°C. As saggars de folha de alumínio são minhas prediletas. Posso utilizá-las sozinha, ou seja, somente com os materiais orgânicos ou acrescentando barbotina ou então,* placa de argila.
A vantagem das queimas em muflas individuais e maleáveis, envolvendo o objeto cerâmico como se fosse uma roupa do tamanho adequado ao objeto, é que se torna econômico, pois os sulfatos e materiais orgânicos são colocados na proporção ideal para produzir os efeitos, sem desperdícios, fixam direto no objeto dando mais ou menos controle do que desejamos atingir na decoração, elas podem ser empilhadas uma sobre as outras dentro do forno, otimizando o espaço, e cada objeto é personalizado, pois os vapores de gases que volatilizam dos produtos durante a queima trabalham apenas dentro da mufla e os produtos colados no corpo da peça criam uma tonalidade intensa.

*Aguardem o próximo assunto:
As placas de argila que desprendem das peças: sua vida na Arte!!!!!!!!

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